14 outubro 2013

As manifestações dos professores, o descuido do poder executivo e os “sem vandalismo"

As manifestações dos professores, o descuido do poder executivo e os “sem vandalismo”.

Caro leitor, essa matéria, diferentemente das outras, não foi escrita por apenas um integrante do Blog. Ela é resultado de um trabalho conjunto dos três colunistas fixos e mais um convidado sendo assim ela apresentará diferentes visões e interpretações a cerca do mesmo fato.

Desde junho, ocorrem manifestações de rua contra algumas medidas tomadas pelo poder público, com o estopim sendo o aumento da passagem para mais 20 centavos no Brasil todo praticamente, porém, as pautas iam muito além disso. As grandes massas foram para as ruas após o corte do aumento dos 20 centavos, o que não está errado, porém as pautas e reivindicações não eram claras e objetivas, sendo um mar de cartazes e gritos de diversos assuntos sem uma centralização.
Mais recentemente, os professores entraram em greve nas escolas municipais, estaduais, reivindicando um plano de carreira. Tal plano deveria ser discutido e elaborado em conjunto acordo entre todas as esferas envolvidas (sindicato dos profissionais da educação, vereadores e prefeitura). Isto não foi atendido e um plano elaborado pelo prefeito Eduardo Paes foi votado na câmara dos vereadores (com um grande protesto do lado de fora) já que o plano traria benefícios maiores aos professores de 40 horas semanais, os outros professores que compunham mais de 90% da classe não foram beneficiados.
Os professores foram às ruas para protestar, com total apoio dos Black blocks, que para surpresa da grande maioria, inclusive dos professores, estavam em total apoio com os profissionais da educação. Os que antes eram vistos como “jovens vândalos” tiveram uma imagem diferenciada depois da manifestação do dia da votação da câmara. Os professores também estavam enganados num primeiro momento, também achavam que eram só “vândalos querendo quebrar tudo”, mas não eram. Defenderam grande parte dos professores na truculência do Estado (que age desta forma contra professores, manifestantes, mulheres... porquê será?) e receberam total apoio.
Na manifestação do dia 07/10/2013 sendo a maior referente a greve dos professores (até o dia de hoje) foram mais de 100 mil as ruas em total apoio aos professores e suas reivindicações, profissionais, estudantes, trabalhadores, todos defendendo uma melhoria a esta profissão tão importante e completamente desvalorizada. Os Black blocks, num ato de representação, tacaram bombas na Câmara dos Vereadores, e receberam mais uma vez total apoio da classe dos professores, que vibrava com a atitude. O povo não aguenta mais receber truculência e ficar acomodado, o povo não aguenta mais o descaso do poder executivo com suas reivindicações e ficar calado, e aos que continuam com o discurso de que o vandalismo atrapalha isto é a resposta do povo, é uma forma de demonstrar nossa raiva e indignação, é uma imagem para causar impacto mesmo. Todos somos professores, todos somos Black block, todos somos manifestantes, todos somos parte do povo!
O dia sete de outubro de 2013 vai ficar marcado, pelo menos para mim, como a data em que a educação do Estado do Rio de Janeiro começou a trilhar o caminho para a sua definitiva melhora. O que pude constatar durante a greve é que pautas tradicionais, como a questão salarial, ficaram em um segundo plano. Através do debate acerca do plano de cargos carreiras e salários os profissionais da educação passaram a questionar outros temas de extrema importância como: a autonomia pedagógica e a própria democracia.
Os “legítimos” representantes do povo estão usando de força possível para reprimir aqueles que os questiona. Essa repressão se dá não somente através de seu braço armado (polícia), mas também através de seu órgão midiático. Jonalecos de meia pataca e emissoras de merda vendem o terror para a grande parte da população. As imagens de bancos quebrados são amplamente divulgadas e causam orgasmos sensacionalistas em apresentadores de telejornais ao passo que as imagens de pessoas sendo atingidas por gás de pimenta são colocadas como algo trivial. Segundo Malcolm X é preciso tomar cuidado, pois se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo.
Mesmo correndo o risco de terem seus salários descontados e de apanharem da policia militar os profissionais da educação continuam nas ruas. A luta pela educação pública de qualidade ganhou o apoio de vários movimentos sociais, mas o mais importante apoio somando a essa luta, é sem sombra de duvida, o apoio da camada jovem da população. Os jovens passaram a sentir que existe um enorme descompasso entre o discurso que se diz democrático e as ações que mais lembram os períodos ditatoriais. Bandeiras partidárias não mais representam essa camada jovem, elas estão sendo lentamente substituídas pelas “bandeiras” ideológicas do anarquismo e do comunismo.

 Gostaria agora de me focar em um assunto que tem ficado mais em evidência devido a constante presença da polícia nos protestos. Desde junho os primeiros protestos foram reprimidos com muita violência, aquelas armas que se dizem não letais fizeram vítimas fatais e a polícia que já a muito tempo carrega a alcunha de bandidos fardados ganhou a medalha por atirar em qualquer um sem motivo.
  Muito se disse na mídia que a polícia era despreparada, isso claro após atingirem os jornalistas e os manifestantes sem pauta da classe média, ai nesse momento, o movimento ganhou visibilidade da mídia e passou a ser entendido como início de manifestações pacíficas seguidas de anarquista, comunistas e "mascarados" quebrando tudo, sempre é claro com a devida violência do Estado. Agora a reflexão que trago é a seguinte, será mesmo que nossa polícia é despreparada? Tenho sérias dúvidas quanto a isso, afinal ela tem se mostrado muito eficiente em prender membros de movimentos sociais assim como usar dos mais variados armamentos contra o povo, ela é claro está ali com um objetivo e claro ele destoa muito dos dizeres que estão do manual do bom policial, estão ali para desestruturar e dispersar a manifestação, para que ela não aconteça, a não ser quando a maioria do que temos de mais reacionário no Brasil que ainda se caracteriza por um país muito conservador vai a rua protestar contra a corrupção (leia-se PT e Mensalão) e quando estão reclamando das bolsas "esmolas" e cotas, nesse caso a repressão da polícia quase não existe, e somente existe com grupos específicos. Para terminar essa pequena contribuição queria deixar dois pontos interessantes.
   Aos que criticam as bolsas e outras formas de redistribuir renda digo, é claro que dar dinheiro não resolver o problema da fome no país, mas é muito fácil falar que é mais fácil dar escola e ensino técnico a longo prazo sendo que a fome mata a curto prazo. 
  Aos que criticam os vidros quebrados nos protestos, queria dizer uma coisa a você que chama uma vidraça quebrada de vandalismo ao mesmo tempo que finge não ver o menino na rua dormindo, gostaria de entender porque um ser inanimado pode sofrer violência enquanto uma criança é só mais uma viciada de rua? Acredito de verdade que pessoas assim devem rapidamente visitar um psicologo afinal está com algum problema.


Texto Escrito por 
Alan Aragão
Felipe Alves
Valdeir Conegundes

25 setembro 2013

Epicuro e a morte

   Dentre as várias perguntas e reflexões de um ser humano, está a dúvida sobre a morte. Para alguns algo tão complexo e inimaginável, para outros a libertação dos males da vida terrena, uma ida ao paraíso e a perfeição em outro plano.

   Podemos ter várias e várias explicações, visto que nunca teremos certeza alguma, pois julgo impossível “descobrir” o que há na morte, e Epicuro tem uma ideia que nos ajudará nesta reflexão. Não irei aqui fazer biografia dele, nem situá-lo num contexto histórico, pois o assunto ao qual trataremos é universal, onde ideias e pensamentos estão presentes em todas as culturas e sociedades.

   Epicuro diz que não devemos temer a morte, pois a mesma seria o fim da sensação, de desejos, de qualquer forma de sentimento, inclusive do temor da mesma. Enquanto nós vivemos, estamos com todas as formas de pensar, de sentimentos e tudo isto ficará ausente após a morte, logo não iremos sofrer na morte, não iremos ficar tristes, simplesmente porque não teremos como ter essas sensações. Pode parecer redundante com uma olhada rápida, mas se analisarmos com uma profundidade maior, veremos que há uma boa lógica nesta ideia.

   A aflição por imaginar a morte causa a tristeza e a dor, e não a morte em si. O temor de não estar mais presente nesta situação ao qual estamos causa espanto, e não o fato em si. A sensação e os pensamentos que causam todos os males do ser humano, como também causam todos os momentos bons.
A morte seria a ausência disto tudo, de tudo que causa o mal, e também o bem.

   É claro que, num instinto de sobrevivência, de mantermos os atuais prazeres da vida, de continuarmos a vivenciar esta experiência única neste mundo, não queremos nos ausentar dele antes do “programado”, logo buscaremos os caminhos para continuar a jornada. Causa sim tristeza imaginar que um dia não iremos mais habitar e ser da forma que somos, mas só há a tristeza porque estamos vivos e sentimos.

   Lembrando que esta não é a única visão sobre a morte e nunca teremos certeza da mesma, mas é apenas uma das várias reflexões acerca do assunto.
Aqui está um texto de Epicuro, sobre o qual me baseei nesta reflexão.


Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exato do facto de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma ideia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no facto de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la.
Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais.
Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas seu encanto, que nos apraz. Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingênuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.


Felipe Alves


07 setembro 2013

7 de setembro negro e vermelho

  
   Hoje é dia 07 de setembro e nesse mesmo dia a 191 anos atrás era feita a nossa “independência”. Essa dita independência colocou no poder um representante legítimo do poder monárquico que, pelo menos em teoria, deveria ser substituído por algo “novo”.

   A linha ininterrupta da história foi traçada e após séculos esse “algo novo” continuou a ser representado pela velha forma de poder. Até o ano de 2003, quando um dito representante do povo foi eleito, o que vimos foi uma sucessão de representantes da elite no comando de nossa nação.

   Infelizmente Lula mostrou não ser esse “algo novo” tão esperado desde o grito do Ipiranga. Suas ações políticas mostram esta firmemente afinadas com as elites, o que ele fez ficou muito aquém do que realmente ele poderia ter feito.

   Fica claro que esse sistema político não mais satisfaz as necessidades da classe trabalhadora. O atual cenário de crise econômica colocou em duvida a legitimidade de seus governantes. E graças a isso novas vozes se somaram aos movimentos, que há muito tempo, vem lutando contra esse sistema político e econômico. Refiro-me aos movimentos sociais e aos partidos de esquerda.

  Vemos então, nessa manifestação do 7 de setembro, conhecida pelo desfile dos militares, uma imagem que na minha vivência ficará gravada: Os Black blocks, ou os que partilham da ideologia anarquista, de camisas pretas, e os da esquerda, com camisas e bandeiras vermelhas, seja de partido ou não, seguindo na mesma direção pela Av. Presidente Vargas, claramente divididos com os “trajes”, as formas de protestar, as formas de gritar, mas claramente unidos contra um sistema que oprime, que traz a desigualdade social, e permanece com estereótipos de preconceitos. Vamos e devemos lutar contra isto, mesmo com posições diferentes, mas em direção há uma mudança clara de conjuntura. Aliás, no momento em que o Choque esteve a fazer uma barreira contra os Black blocks, numa clara ação de violência contra a liberdade e para desunir o protesto, todos da manifestação voltaram para dar apoio de massa aos mesmos. Esses contra sistema atual devem se unir, que juntos somos muito mais fortes, juntos iremos mudar!

     A “violência” dos Black block são contra símbolos do sistema capitalista, eles não “quebram tudo” como tentam passar, são jovens com uma posição ideológica e com ações pré determinadas, e os socialistas e comunistas vem há décadas numa luta em que foram perseguidos e torturados pelos grandes do poder.

   Assim como ficou lindo de se ver nas ruas, os “vermelhos e pretos” devem continuar juntos numa direção e num objetivo claro, mesmo contra todos, contra mídia, contra governo, contra os que oprimem cada vez mais as pessoas e suas ideias.

Felipe Alves e Valdeir Conegundes

31 agosto 2013

O poeta das rosas

   Nascia no dia onze de Outubro de mil novecentos e oito, no bairro do Catete, um brasileiro de nome Angenor de oliveira. Esse brasileiro entrou para a história da música popular brasileira pelo carinhoso apelido de Cartola. Pretendo nessa pequena biografia contar um pouco mais sobre a história desse grande personagem de nossa cultura. Usarei vasta discografia para auxiliar-me a contar a vida desse grande poeta.

   Aos onze anos de idade Cartola e sua família se viram obrigados, devido às condições financeiras, a irem morar no Morro de Mangueira zona norte do Rio de janeiro. Como o futuro ira mostrar esse lugar vai servir de inspiração para os versos de nosso poeta.

   “Alvorada lá no morro, que beleza /Ninguém chora, não há tristeza /Ninguém sente dissabor” (Alvorada).

   Seu pai, Sebastião Joaquim de Oliveira, ensinou Cartola desde pequeno a manusear e a tocar diversos instrumentos musicais, indo de cavaquinho ao violão. O carnaval sempre esteve presente na vida de nosso poeta, era costume da família de Angenor desfilar no bloco carnavalesco  Rancho dos Arrepiados. Não por acaso as cores do bloco (verde e rosa) foram colocas como cores oficiais da escola de samba fundada por Cartola.

   “É branco o sorriso das crianças / São verdes, os campos, as matas / E o corpo das mulatas quando vestem Verde e rosa, é /Mangueira” (Verde que te quero Rosa).

   Obrigado a trabalhar desde muito cedo Angenor passou por vários empregos, e foi como auxiliar de pedreiro que ganhou o apelido (Cartola) que vai lhe acompanhar pelo resto de sua vida. O apelido foi dado pelo fato de Angenor usar um chapéu “coco” durante a obra, o chapéu tinha como objetivo evitar que restos de cimento caíssem sobre sua cabeça. O mundo do trabalho também vai estar representado nos versos do compositor:

   “Se o operário soubesse / Reconhecer o valor que tem seu dia / Por certo que valeria
Duas vezes mais o seu salário / Mas como não quer reconhecer / É ele escravo sem ser/  De qualquer usurário” ( O samba do operário)
   Angenor somente concluiu o ensino fundamental e aos 15 anos de idade perdeu sua mãe. Aos 17, por não agüentar as constantes brigas com o pai, saiu de casa. E assim iniciou sua vida de boêmio carioca.

   Em 1928 Angenor ao lado de Saturnino Gonçalves, Massu, Zé Espinguela, Euclides dos Santos, Pedro Caim, Abelardo Bolinha deram início à escola de samba Estação primeira de mangueira. O nome deve-se ao fato de ser a Estação ferroviária de Mangueira ser a primeira parada, partindo da central do Brasil, a possuir uma Escola de samba. A letra do primeiro samba enredo de mangueira foi composto por Angenor e cantada pos seus companheiros:

   “Chega de demanda / Chega! / Com este time temos que ganhar / Somos da Estação Primeira /Salve o Morro de Mangueira” (Chega de demanda)

   A década de 1930 foi para cartola, que devido à qualidade de suas composições, uma época de resplendor. Ele passou a despertar o interesse de diversos cantores da época. Grandes artistas do rádio como, Francisco Alves, passaram a procurar Angenor com o propósito de comprar algumas de suas composições. “Divida dama” foi o primeiro samba de Angenor a ganhar repercussão no meio artístico da época.

   A Segunda Guerra Mundial já havia começado e, buscando apoio dos países latino-americanos, os Estados Unidos puseram em prática a chamada política da boa vizinhança. Em 1940, atracou no Brasil o navio Uruguai, que trazia a bordo o maestro inglês Leopold Stokowski. Além de fazer duas apresentações no Rio de Janeiro, o regente reuniu no navio artistas populares, trazidos por Villa-Lobos, com o intuito de fazer gravações para o Congresso Pan-Americano de Folclore. Cartola estava entre os compositores escolhidos e gravou quatro sambas no disco “Columbia presents – native Brazilian music – Leopold Stokowski”, lançado nos Estados Unidos pouco tempo depois.

   Mesmo com tanta visibilidade Angenor não conseguia se manter apenas com a musica sendo obrigado a fazer seus “bicos”. Em 1946 Angenor foi acometido por uma terrível meningite que o fez parar de compor e trabalhar. Foi graças a Deolinda que Angenor pode se recuperar e a voltar a compor. Infelizmente um ano após ela veio a falecer devido a um ataque fulminante no coração.

   Depois da morte da Esposa Angenor acabou por cair nas mãos de Dónaria, a mulher responsável por tirar do Morro de Mangueira seu mais genial compositor. Cartola foi residir com ela no morro do Caju. O relacionamento tempestuoso não durou muito e Angenor acabou voltando para a Mangueira ao lado de Euzébia Silva do Nascimento (zica), mulher com a qual Angenor viveu até o último dia de vida. Podemos perceber que esse momento de sua vida ficou gravado em seus versos:

   “Para ter uma companheira /Até promessas fiz /Consegui um grande amor/ Mas eu não fui feliz/ E com raiva para os céus/ Os braços levantei / Blasfemei / Hoje todos são contra mim” (Sim)

   Com muito trabalho e ajuda de amigos, Angenor, abriu em 1963 o Zicartola, um restaurante que reuniu durante alguns anos os maiores sambistas do Rio de Janeiro como Paulinho da Viola. Ele era localizado no coração da boemia, a Rua da Carioca. Foi nesse espaço que em 1964 Angenor e “Zica” realizaram sua festa de casamento. O espaço fechou suas portas em 1965.

   O maior fruto gerado pelo Zicartola veio no ano de 1974 quando Marcos Pereira deu a Angenor a possibilidade de gravar seu primeiro LP solo. Nesse LP Angenor cantou seus dois maiores sucessos “O mundo é o moinho” e “As rosas não falam”.

   "Ouça-me bem, amor /Preste atenção, o mundo é um moinho / Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho /Vai reduzir as ilusões a pó" (O mundo é um moinho)

   "Queixo-me às rosas,/ Mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam de ti, ai" (As rosas não falam)

   Sua genialidade foram finalmente reconhecida fato que possibilitou a Angenor viver de maneira confortável os últimos anos de sua vida. O grande mestre Cartola morreu no ano de 1980, aos 72 anos.



Valdeir Conegundes


Fontes e link para as musicas

CARTOLA. Fita meus olhos. Rio de Janeiro: Uerj/Departamento Cultural. Fundação Museu da Imagem e do Som, 1998.

MOURA, Roberto. Cartola, todo tempo que eu viver. Rio de Janeiro: Corisco Edições, 1988.

SILVA, Marília T. Barboza da & OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Cartola: os tempos idos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte/INM/DMP, 1989.


Saiba Mais - Documentário:
“Cartola – Música para os olhos”, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. Brasil, 2006.

28 agosto 2013

Estereótipos e preconceitos relacionados ao continente africano, aos africanos em geral e a continuidade nos dias de hoje.

   Todos nós sabemos que há um preconceito no campo “racial” no mundo todo, referente principalmente aos negros.

    Analisando os comentários das pessoas que você conhece, provavelmente irá ver uma ideia de inferioridade do negro, seja no campo intelectual ou em outros aspectos. E é claro que estes pensamentos tem grande influência histórica e social, com estereotipias e preconceitos enraizados há séculos e que permeiam a sociedade até hoje.

   Em diversos campos de análise poderemos ver ideias que desqualificam e minimizam o continente africano, partindo do pressuposto de inferioridade e das razões para isto.

   No campo geográfico, vemos uma análise dos europeus que chegavam a conclusão de que o norte do planeta, onde a ficava a civilização europeia, era superior, e a inferioridade do continente africano, da selvageria e barbárie dos seus habitantes, sendo até impossibilitada de vivência por parte dos “civilizados” por decorrência de um “calor escaldante” e fazendo uma clara analogia ao paraíso (norte) e inferno (sul, continente africano, fadados as piores mazelas). Estão aqui presentes também na imaginação do europeu medieval um continente africano com seres mitológicos, com humanos com cabeça de cachorro, pigmeus e toda uma leva de fantasias, além do reino de Preste João, um reino cristão que ajudaria os mesmos na disputa contra os muçulmanos. Todas essas suposições se baseiam no mapa mundi conhecido que coloca a Europa como centro da Terra.

   Outra razão para esta visão seria que os africanos são descendentes de Cam, um dos filhos de Noé, que teria zombado do pai* (no caso por ele estar nu depois de tomar vinho, porém a nudez pode estar relacionada a atividade sexual e a tradução não foi perfeita) e estaria fadado a escravidão, por uma maldição de Noé a Canaã, filho de Cam.

   Há tempo preconceitos que remetem a antiguidade clássica, onde os povos do idioma berbere (númidas, maurtiânios, líbios) deram origem ao termo bárbaro*. (bárbaro é o termo usado pelos de origem Greco/romana a todos os povos que não partilhavam da cultura, religião e estrutura social dos romanos e que tiveram grande influência da Grécia Antiga.)

   Com o tempo e permeando ainda características que subalternizam o continente africano e seu povo, os europeus da fase do imperialismo determinavam que a África não detivesse “civilização”, sendo até pensado em retirar a civilização egípcia do continente africano, pois “uma civilização notável como a egípcia não poderia ter nada a ver com um continente selvagem como o africano”. Assim sendo, os europeus estariam fazendo um favor aos africanos em geral trazendo civilização para estes povos.

   Todas estas imagens trazem a tona um continente que há tempos passa por uma imagem de inferioridade e algo que não deve ser entendido como civilizatório, negando um relativismo cultural e de organizações sociopolíticas diferentes e de uma complexidade enorme no continente africano, que poderemos falar em outro texto.

   O continente africano hoje em dia passa por uma visão de que podemos chamar de “afro pessimismo” onde há a ideia de que o continente não poderá ter um futuro próspero, estando apenas com doenças, pobreza, miséria, e suas belas paisagens naturais são as únicas imagens que permeiam no imaginário das pessoas.

   Trazendo agora exemplos mais próximos de nós, sabemos que os africanos das mais diversas etnias foram trazidos para o Brasil como escravos, para fazer um trabalho manual e em condições completamente precárias. Considerando mais de três séculos de escravidão no Brasil, e seus 513 anos de “história” no que se refere ao olhar europeu para as terras já habitadas por nativos, chamados de índios, temos grande parte desta história negros escravos (e alguns indígenas) movendo a economia de nosso país, estando fadados a submissão perante os brancos, apesar de terem tido revoltas como os famosos quilombos.

   Observando todo este cenário, claramente chegamos à conclusão de que os negros até hoje são considerados de uma forma preconceituosa, e apesar de estarem em grande número no Brasil, são poucos os que adquirem altos cargos nos empregos e empresas, ou os que conseguem uma vaga numa universidade* (Com o advento das cotas, esse quadro melhorou, mas não resolveu.) Podemos também observar que são poucos médicos, refletindo sobre o médico negro cubano que foi vaiado por médicos e médicas do sindicato de medicina em sua chegada ao programa Mais Médicos, que são negros aqui no Brasil.


   Está claro que as influências das diversas imagens que inferiorizam o negro estão presentes até hoje, seja no humor, onde vemos características de um negro expostas ao ridículo, seja na pequena frase “tinha que ser negro”, ou em casos mais alarmantes como ser racista definido (temos muitos até hoje, apesar da melhoria com o tempo). No campo social com muitos negros prestando serviços braçais e manuais, e recebendo salários baixíssimos pelo trabalho* (Não estou dizendo que só negros façam trabalhos a salários baixos, apenas estou alertando que são maioria.)



Felipe Alves

Fontes:
Jean Delumeau – A civilização do Renascimento

Maurício Waldman e Carlos Serrano - Memória D'áfrica

Marina de Mello e Souza – África e Brasil Africano

21 agosto 2013

Senso comum em alta, educação em queda livre

    É comum que se veja dezenas de notícias sobre professores que agridem alunos assim como alunos que agridem professores, tudo isso muito mal divulgado pela mídia assim como pelos governos. E porque a nossa educação demonstra números e realidades muito complicadas devemos pensar, é possível de certa forma deixar claro qual a causa de nossa educação ser assim?  Não, e claro também não podemos acusar os culpados, podemos é claro deixar os indícios que nos levam aos pequenos passos dados pela educação ao longo de nossa história assim como quais foram os problemas que hoje refletem em uma educação de baixa qualidade.

   Seria o Brasil historicamente responsável por de certa forma ter uma educação elitizada e para poucos?  Sim, mas também não podemos acusar um período a muito passado por nossas realidades atuais, claro que ela tem sua dose de influência, mas não podemos deixar isso cair em certo tipo de determinismo, porque afinal se fosse de fato determinado nada poderíamos fazer já que estamos fadados ao fracasso. Isso felizmente não corresponde com a verdade. Podemos também tentar atingir o atual elo mais fraco da relação educacional, colocar a culpa no professor tem sido a resposta de alguns governos e de alguns pais para que assim se negue as negligências tanto dos governos como dos pais, em geral para aqueles que vivem a margem do mundo da educação sempre ocorre generalizações e principalmente acusações passionais e sem fundamento, mas que escondem a realidade da educação.

    Um outro problema segue no sentido de um pensamento da educação como negócio, o não pode ser levado adiante, pois negócios exigem cortes de gastos, e na educação isso reflete em corte da qualidade. Podemos e devemos ainda ter um trabalho no sentido de fazer toda uma geração que está desconexa do que é lutar pelos direitos, que hoje são tão comuns que passam desapercebido, voltar a ter a consciência de que esse direitos não foram dados, e diversas vezes se lutam contra essas conquistas da população.

    Nossos jovens em geral tem estado mais preocupados com os grandes avanços da tecnologia e do esporte do que propriamente com a educação e o avanço do pensamento, ou ainda estar atento a politica para assim poder lutar pelos seus interesses, seria interessante pedir que o professor apresentasse uma forma de chamar a atenção dos alunos para as aulas, porém também seria interessante mostrar que os alunos também não tem um feedback sobre essa busca, por isso seria de devida importância toda uma ação do Estado perante a educação, porque somente uma força vinda de maneira externa pode quebrar o ciclo que obriga o professor a se acomodar a mesma medida que coloca o aluno com um carro em linha de montagem.

Alan Aragão Nunes

04 agosto 2013

Durkheim e o aprisionamento feito pela sociedade: Uma reflexão


    A sociedade como um todo existe e não pode ser negada, partindo da concepção durkheimiana. Mas quem foi Durkheim?

   Irei fazer uma breve introdução de seu estudo para facilitar o entendimento do texto.

   Durkheim foi um grande teórico da sociologia positivista, estudando a sociedade e usando como objeto de estudo os fatos sociais. Para algo ser um fato social, ele necessita de três características: Coerção social, ou seja, uma força que submete o indivíduo sem que ele tenha escolha sobre a mesma, dando como exemplo o idioma que ele aprende, ou o código de leis vigente no local.

   Outra característica de um fato social é que o mesmo deve ser exterior aos indivíduos, ou seja, existe antes do nascimento do indivíduo e permanecerá depois, como costumes, comunicação, sentimentos, leis. Sendo as mesmas coercitivas e impondo ao indivíduo certa “padronização”.

   E como última característica a generalização, onde se repete na maioria dos indivíduos de um local, demonstrando uma natureza coletiva.



   Partindo destes princípios, vamos a reflexão: Não seríamos nós apenas subprodutos de uma sociedade que impõe desde o momento do nosso nascimento até a morte todo tipo de opressão no sentido de formação de caráter e personalidade?

   Nossa localização no tempo histórico pré determina e pré define quase tudo que fazemos, como linguagem, costumes, etiqueta e muitas vezes convicções religiosas. Logo, vivemos enclausurados e aprisionados num determinado espaço/tempo que estamos inseridos. Dando um exemplo histórico, os homens que viveram há 1000 anos atrás na Europa Feudal, não tinham condições mentais de imaginar uma sociedade que vivia nas Américas, pois os mesmos não sabiam da existência e nem podiam imaginar os costumes e padrões destes homens. (Em fins do século X, os vikings chegaram a “descobrir” a América, porém, não ficaram por muito tempo e não demonstraram ao resto da Europa, logo, muitos ainda não sabiam da existência dos povos além mar).

   Como hoje, nós não podemos imaginar uma vida fora do planeta Terra, onde não descobrimos ainda e não temos capacidade de visitar outras galáxias para esta imaginação. Talvez, no futuro, os homens (se a humanidade existir) irão ter contato com vidas extraterrestres que nós, desse tempo, nunca imaginaríamos.

    Mas voltando a reflexão, toda nossa personalidade está pautada em valores e morais que estamos vivenciando numa sociedade que pratica uma coerção “indireta” em nós. A localização social que estamos também, muitas vezes, define nossas expectativas, nossos sonhos e nosso futuro, baseando papéis “certos” para os indivíduos, e punindo os mesmos de forma legal (dentro das leis) ou espontânea (dentro das condutas e valores atuais).

    Muitas práticas que não são aceitas pela consciência coletiva, expõem os “infratores” ao ridículo e privam o mesmo de uma liberdade individual que quase não existe, sendo pré-definido o que o mesmo deve ou não fazer.
Estamos enclausurados na sociedade, no tempo, no espaço e nos vemos presos há todo momento, em qualquer lugar, na forma de sanções.

    O trabalho, a diversão, o amor, a forma de viver e todos os outros aspectos individuais que pensamos que escolhemos sozinhos, estão acima de nós num processo muito mais amplo e permeia a todos.
Para terminar a reflexão, irei colocar um trecho do livro Perspectivas  Sociológicas de Peter Berger para finalizar a compreensão:


“ Nossa sociedade constitui uma entidade histórica que se estende temporariamente além de qualquer biografia individual. A sociedade nos precedeu e sobreviverá a nós. Nossas vidas não são mais que episódios em sua marcha majestosa pelo tempo. Em suma, a sociedade constitui as paredes de nosso encarceramento na história.”

Felipe Alves

Fontes:
Perspectivas Sociológicas – Peter Berger
Introdução a Sociologia --  Cristina Costa

31 julho 2013

Apologia da História ou o ofício do historiador - Indicação

   Marc Bloch foi um autor do mais estudados e reconhecidos no decorrer do século XX e ainda está muito atual no século XXI, seja por suas ideias que desenvolveram em muito a historiografia, ou ainda pelo seu trabalho acerca dos estudos da Idade Média.

   Marc Léopold Benjamim Bloch, nascido em Lyon no dia 6 de julho de 1886, filho também de outro historiador, porém este era professor de história Antiga, participou da primeira grande guerra, estando servindo na infantaria, foi ferido e condecorado por mérito. Um dos pontos altos de sua vida foi quando ingressou na universidade de Estrasburgo e encontrou Lucien Febvre que seria seu amigo e companheiro de trabalho, com quem junto fundou a Revista do Annales, que depois de sua fama se tornou conhecida como Escola do Annales, que de fato nunca se tornou uma escola, e sim um desenvolvimento da historiografia frente a história positivista praticada até então.

   Sua obra mais interessante sem dúvida foi a Apologia da história, livro que foi escrito dentro da prisão, para entender isso novamente devemos estudar o contexto de vida de autor, era um autor Francês, na segunda guerra mundial seu país foi atacado pela Alemanha nazista e Marc Bloch não perdeu tempo e fez parte da resistência a invasão nazista, infelizmente essa resistência não foi bem sucedida e ele escreveu dois livros nesse período, um chamado “A estranha derrota” e dentro do presídio nazista escreveu “Apologia da história ou o ofício do historiador”, infelizmente no dia 16 de junho de 1944 foi fuzilado pelos nazistas, neste dia perdemos um grande historiador, e sem dúvida um grande homem.

Marc Bloch durante a Segunda Guerra
   O livro parte da pergunta de um filho a um pai sobre qual a função da história, a partir deste ponto o autor desenvolve teoria do que seria o verdadeiro trabalho de um historiador. Devemos lembrar que ele também trabalha no entendimento de como deve ser visto o passado frente ao presente. No decorrer do livro Marc Bloch defende que não devemos olhar o passado com ideias e aspirações do presente, assim como devemos entender que ao passar das gerações as mentalidades mudam e assim escolhas e atitudes mudam junto, ele defende que devemos olhar o passado pelos olhos do passado, entender a idade média por exemplo, pela visão do autores da época, estudando a mentalidade daqueles que nela viveram e a partir disto entender qual herança aquele período nos deixou, fazer o famosos links históricos entre o passado e presente.

   O autor ainda trabalha com a ideia de que muitas vezes algumas respostas não podem ser dadas pela história, e talvez sim pela antropologia, ciências sociais e não para por ai, temos atualmente respostas que vieram da medicina, da matemática, ou seja, ele acredita que o historiador deve beber de múltiplas fontes para buscar a resposta, e ainda trabalhe em conjunto com uma série de outros profissionais, ele mesmo nos deixa um exemplo em seu livro, que relata sobre uma área que sofre diversas transformações geográficas, o interessante do relato é no sentido de mostrar o trabalho interligado de Historiador e um Geólogo, mas logo se percebe que a ajuda de mais um profissional de outra disciplina não faria mal.

   Ao final do livro o autor ainda nos leva a reflexão sobre o que cabe ao historiador, compreender ou julgar a história?

“ Ora, por muito tempo o historiador passou por uma espécie de Juiz dos infernos, encarregado de distribuir o elogio ou o vitupério aos heróis mortos.”
                                                (Apologia da história, p. 125 editora Zahar)

  O autor nos leva a uma longa reflexão que no fundo sempre lembra a questão. O trabalho do historiador não deve se confundir, deve-se entender a ação do homem no tempo sem que se atribua valores, ou que se faça julgamentos.

   Um último ponto clássico do seu livro é sobre as fontes, para entender isso devemos ver o que foi o positivismo, em poucas palavras era o método historiográfico usada até o momento da criação da Escola dos Annales, era baseado em usar documentos oficiais e ainda se prender ao fato oficial, sem em geral relativizar ou ainda tentar interligar os fatos para criar uma analogia e outros desenvolvimentos. Duas considerações devem ser feitas, primeiramente o positivismo não deve ser tido como errado, foi um fruto do seu tempo e portanto no momento que foi criada caracterizou um avanço assim como quando a Escola Annales foi criada como fruto do seu tempo e marcou outro desenvolvimento, e segundo, devemos lembrar que mesmo após os avanços historiográficos do século XX o positivismo ainda continuou a ser usado, principalmente em livros escolares, o que facilita e de certa forma incentiva a prática de decorar a história.

   O autor defende que diferentemente da historiografia anterior sejam usadas quaisquer fontes, fotos, gravuras, pinturas, poemas, diários, arqueologia e muitos outros frutos do período estudado.


   Um ponto importante de ser elucidado é, como disse anteriormente este livro foi escrito dentro de uma cadeia, logo ele não teve acesso a algumas anotações, ou ainda livros para consultar, e o próprio autor diz no decorrer da obra que como não tem onde consultar pode estar passando alguns dados errados. Isso sem sombra de dúvida não diminui o peso dessa obra que é de suma importância para qualquer um que pretenda estudar história com seriedade.


Alan Aragão Nunes

Fontes:

Apologia da história ou o ofício do historiador - Marc Bloch, editora Zahar