31 julho 2013

Apologia da História ou o ofício do historiador - Indicação

   Marc Bloch foi um autor do mais estudados e reconhecidos no decorrer do século XX e ainda está muito atual no século XXI, seja por suas ideias que desenvolveram em muito a historiografia, ou ainda pelo seu trabalho acerca dos estudos da Idade Média.

   Marc Léopold Benjamim Bloch, nascido em Lyon no dia 6 de julho de 1886, filho também de outro historiador, porém este era professor de história Antiga, participou da primeira grande guerra, estando servindo na infantaria, foi ferido e condecorado por mérito. Um dos pontos altos de sua vida foi quando ingressou na universidade de Estrasburgo e encontrou Lucien Febvre que seria seu amigo e companheiro de trabalho, com quem junto fundou a Revista do Annales, que depois de sua fama se tornou conhecida como Escola do Annales, que de fato nunca se tornou uma escola, e sim um desenvolvimento da historiografia frente a história positivista praticada até então.

   Sua obra mais interessante sem dúvida foi a Apologia da história, livro que foi escrito dentro da prisão, para entender isso novamente devemos estudar o contexto de vida de autor, era um autor Francês, na segunda guerra mundial seu país foi atacado pela Alemanha nazista e Marc Bloch não perdeu tempo e fez parte da resistência a invasão nazista, infelizmente essa resistência não foi bem sucedida e ele escreveu dois livros nesse período, um chamado “A estranha derrota” e dentro do presídio nazista escreveu “Apologia da história ou o ofício do historiador”, infelizmente no dia 16 de junho de 1944 foi fuzilado pelos nazistas, neste dia perdemos um grande historiador, e sem dúvida um grande homem.

Marc Bloch durante a Segunda Guerra
   O livro parte da pergunta de um filho a um pai sobre qual a função da história, a partir deste ponto o autor desenvolve teoria do que seria o verdadeiro trabalho de um historiador. Devemos lembrar que ele também trabalha no entendimento de como deve ser visto o passado frente ao presente. No decorrer do livro Marc Bloch defende que não devemos olhar o passado com ideias e aspirações do presente, assim como devemos entender que ao passar das gerações as mentalidades mudam e assim escolhas e atitudes mudam junto, ele defende que devemos olhar o passado pelos olhos do passado, entender a idade média por exemplo, pela visão do autores da época, estudando a mentalidade daqueles que nela viveram e a partir disto entender qual herança aquele período nos deixou, fazer o famosos links históricos entre o passado e presente.

   O autor ainda trabalha com a ideia de que muitas vezes algumas respostas não podem ser dadas pela história, e talvez sim pela antropologia, ciências sociais e não para por ai, temos atualmente respostas que vieram da medicina, da matemática, ou seja, ele acredita que o historiador deve beber de múltiplas fontes para buscar a resposta, e ainda trabalhe em conjunto com uma série de outros profissionais, ele mesmo nos deixa um exemplo em seu livro, que relata sobre uma área que sofre diversas transformações geográficas, o interessante do relato é no sentido de mostrar o trabalho interligado de Historiador e um Geólogo, mas logo se percebe que a ajuda de mais um profissional de outra disciplina não faria mal.

   Ao final do livro o autor ainda nos leva a reflexão sobre o que cabe ao historiador, compreender ou julgar a história?

“ Ora, por muito tempo o historiador passou por uma espécie de Juiz dos infernos, encarregado de distribuir o elogio ou o vitupério aos heróis mortos.”
                                                (Apologia da história, p. 125 editora Zahar)

  O autor nos leva a uma longa reflexão que no fundo sempre lembra a questão. O trabalho do historiador não deve se confundir, deve-se entender a ação do homem no tempo sem que se atribua valores, ou que se faça julgamentos.

   Um último ponto clássico do seu livro é sobre as fontes, para entender isso devemos ver o que foi o positivismo, em poucas palavras era o método historiográfico usada até o momento da criação da Escola dos Annales, era baseado em usar documentos oficiais e ainda se prender ao fato oficial, sem em geral relativizar ou ainda tentar interligar os fatos para criar uma analogia e outros desenvolvimentos. Duas considerações devem ser feitas, primeiramente o positivismo não deve ser tido como errado, foi um fruto do seu tempo e portanto no momento que foi criada caracterizou um avanço assim como quando a Escola Annales foi criada como fruto do seu tempo e marcou outro desenvolvimento, e segundo, devemos lembrar que mesmo após os avanços historiográficos do século XX o positivismo ainda continuou a ser usado, principalmente em livros escolares, o que facilita e de certa forma incentiva a prática de decorar a história.

   O autor defende que diferentemente da historiografia anterior sejam usadas quaisquer fontes, fotos, gravuras, pinturas, poemas, diários, arqueologia e muitos outros frutos do período estudado.


   Um ponto importante de ser elucidado é, como disse anteriormente este livro foi escrito dentro de uma cadeia, logo ele não teve acesso a algumas anotações, ou ainda livros para consultar, e o próprio autor diz no decorrer da obra que como não tem onde consultar pode estar passando alguns dados errados. Isso sem sombra de dúvida não diminui o peso dessa obra que é de suma importância para qualquer um que pretenda estudar história com seriedade.


Alan Aragão Nunes

Fontes:

Apologia da história ou o ofício do historiador - Marc Bloch, editora Zahar



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