22 julho 2013

Comida, bebida e a sexualidade no século XVI

  A História tradicional tem trabalhado em geral visando aspectos econômicos ou sociais, se focando talvez em grandes nomes e documentos oficiais como fizeram no positivismo ou ainda usando até mesmo uma foto no interior de uma caixa como fonte primária de um estudo que mudará o que sabemos sobre o período apresentado como fariam os da Escola dos Annales.

 Alguns historiadores discordarão mas eu acredito que entender como era a vida das pessoas dos séculos passados é também tão importante quanto entender como andava a vida política do país ou cidade na qual ela habitava, em outras palavras entender qual era o assunto do dia-a-dia das pessoas, quais eram piadas ou comédias que preferiam, ou ainda como comiam ou como era sua vida social.

 Em poucos momentos da história a comida e a bebida foram tão opulentas, isso não quer dizer que eram abundantes mesmo apesar de se conseguir mais áreas de cultivo e ainda melhorar a produção. A população em franca expansão na retomada do crescimento após a crise do século XIV, muitos morriam em decorrência da fome, na realidade a fome abria espaço para um número quase ilimitado de enfermidades.

  A alimentação cotidiana não era nem um pouco abundante, ao contrário da alimentação diária da nobreza, não rara eram as vezes que a população de extrema carência se alimentava graças à ação dos paroquianos, em geral eram oferecidos sopas com pão ou queijo, pouca água era consumida a bebida mais consumida no Ocidente Europeu era o vinho, enquanto que mais ao Oriente da Europa a cerveja era mais consumida. As carnes fosse de qualquer origem eram consideradas um luxo que era somente reservado para grandes ocasiões.

 A situação era bem diferente nas camadas nobres, como era de se esperar a alimentação era outra forma de afirmação da sua posição social que era importante mostrar. Grandes banquetes eram realizados em ocasiões como casamentos, batismos e enterros, esse banquetes monumentais duravam horas, e em geral conheciam a satisfação dos convidados com sua total embriaguez. Interessante notar que muitos nobres em geral de pequeno grau acabavam por se arruinar economicamente somente para que consiga ostentar em grandes banquetes.

 A vida do casal no que se refere a sua sexualidade está muito ligada ao que foi deixado nos tratados de teologia moral, e a alguns registros de confissão. Para os ideais cristãos os prazeres carnais são vistos como uma prisão do espírito no corpo, impedindo que este se eleve a Deus. De certa forma a atividade sexual era entendida nos manuais cristãos como forma de procriar e assim formar uma família legítima, em outras palavras o casamento poderia ser entendido como um remédio dado por Deus ao homem com o objetivo de preserva-lo.

  No século seguinte o discurso começa mudando ao afirmar que o prazer não era pecado quando a união se efetuasse com o cônjuge, era condenada a busca do prazer somente, ou ainda o uso de algum método para cancelar o sentido principal da união sexual que era reprodução. A sexualidade era muito regrada, não era aconselhável praticar relações sexuais no dias de “impureza” da mulher, no período de gravidez, aleitamento e em dias de festas, que eram em torno de cento e vinte no século XVI. Além disso a relação sexual devia acontecer na posição dita natural, com a mulher deitada de costas e o homem por cima, qualquer outra posição era considera “contra-natura”, se entendia até que algumas posições, por lembrarem animais copulando era consideras animalizadas e bestializadas. A posição natural por sua vez não podia se inverter com a mulher sobre o homem, afinal era contra a moral cristã no que se refere a mulher ser naturalmente submissa ao homem.



Alan Aragão Nunes

Fontes:

O queijo e os vermes - Carlo Ginzburg

Os andarilhos do bem - Carlo Ginzburg

História moderna através de textos - Adhemar Marques, Flávio Berutti e Ricardo Faria - Coleção textos e documentos.

A Idade Média: O nascimento do Ocidente - Hilário Franco Junior.

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